Segunda-feira da Serreta. O dia apresentou-se com chuviscos. A tolerância de ponto dada à ilha Terceira era motivo de alegria. Os funcionários estavam dispensados para gozarem um dia normal numa festa que atrai milhares de peregrinos, só que a chuva não convidava à tourada que, mesmo assim, se realizou.
Para quem segue à risca esta tradição não podia faltar. E lá estava eu e a família que também partilha do mesmo sentimento festivo. O problema é que ninguém se lembrou de levar o guarda-chuva. De repente, os pingos graúdos começaram a desabar dum céu nublado de negro e pesado de água. Ao meu lado começo a verificar um desassossego e um burburinho constante à medida que os pingos se avolumavam por cima de nós. O tempo escasseava para fugir dali e podíamos escorregar e ainda nos magoávamos e bem... Nisto vejo que tudo serve para empatar a molha certa. A prima tinha-se lembrado de trazer uns sacos de lixo, daqueles que dá para meter um corpo inteiro lá dentro e só ficar a cabeça de fora e metade das pernas e, claro que, os pés também ficam a descoberto e com os dedos todos encharcados. Assim foi. Ali à volta todos se muniram dos tais sacos e abriu-se uma abertura na parte inferior e enfiou-se pela cabeça abaixo ficando só o rosto com um buraco para evitar o sufoco.
Quem nos visse naquele estado ainda podia pensar que se tratavam de pinguins entre a verdura do Pico da Serreta, ou então, nem davam por nós, se ficássemos calados. Mas era impossível ficarmos quietos pois o toiro já estava fora e os músicos da Filarmónica Recreio Serretense, animados pela chuva interna (e externa) faziam com que a festa estivesse animada, mesmo que encharcada. Quando o foguete de duas bombas ecoou nos céus o toiro já estava dentro da gaiola e foi aí que resolvi abandonar, devagar, a posição que ocupava. Percebi que não adiantava o saco enfiado até aos joelhos, porque a humidade instalava-se por dentro e podia trazer consequências ruins para a saúde. O mesmo acontecia com a minha cara-metade que, no dia seguinte, sentiu as dores musculares e um frio de rachar ao ponto de ter de usar cachecol porque a garganta acusava alguma irritação. Mais vale prevenir que remediar e a farmácia estava longe. Mesmo assim conseguimos uma receita milagrosa e na quarta-feira já tudo estava voltando ao normal, tal como o bom tempo.
Vai daí que fomos na “peregrinação” ao Mato para ver engaiolar os toiros que iam correr no caminho em frente ao Santuário de Nossa Senhora dos Milagres, que via assim os seus dias de Festa a chegar ao fim. Foi uma manhã e princípio de tarde muito animadas com churrasco, música e rodas à moda antiga com a prata da casa. Os emigrantes serretenses mataram as saudades das folias de antigamente. A felicidade e a alegria estavam estampadas nos rostos de todos e só acabou às tantas. São dias normais assim que eu gosto.
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